UM FATO
CURIOSO...
Sem
possibilidade de precisão, possivelmente, quando eu teria em torno de cinco
anos de idade, ocorreu-me um fato relevante na minha história singular, durante
a colheita de jabuticabas num pomar pertencente a um fazendeiro nosso conhecido,
com mais de uma dezena de pés da referida fruta.
O
sol estava radiande e no interior do jaboticabal eu me sentia inserido numa
chuva de raios solareles que atravessavam as folhas, ornmentando todo o
ambiente e ainda estrelava o chão. O
cenário era maravilhoso e invadia-me criando um estado de alma diferenciado do
cotidiano.
Eu
estava acompanhado de minha família, juntamente com outros familiares vizinhos
e dentro do pomar tirei os sapatos para subir nos pés de jabuticaba. De pé em
pé fui colhendo a fruta e, ao mesmo tempo, mapeando no meu cérebro de sabores e
outros fenômenos naturais. Eu nem sequer percebia onde realmente estava.
Tratava-se de percepção pura da natureza onde eu me sentia parte integrante
dela.
Contagiado
pelo o Dom da vida, fui sendo invadido por uma sensação de euforia e de
liberdade inerente à existência de algo belo que me contagiava interiormente. Assim,
persistindo na minha distração, fui me afastando do grupo de familiares. O
tempo foi passando suavemente quando de repente notei que a minha família já não
se encontrava mais naquele ambiente. Na verdade, já se encotravam no interior
da Sede da Fazenda.
Quando
me deparei com o momento real, com o dia já anuciando o entardecer, eu me encontrava sozinho e fui tomado de muita
aflição. Gritei pela minha mãe, mas foi em vão. Desci do pé de jabuticaba corri
atrás dos meus sapatos, mas não conseguia caminhar descalço naquele solo cheio de
gravetos perfurantes. Gritei por socorro novamente, mas foi em vão. A aflição
invadia-me cada vez mais causando um profundo sentimento de desamparo. Foi uma
experiencia inesquecível mas, extremamente útil para a minha vida.
Cuidadosamente
encontrei os meus sapatos e sentado no chão surgiu-me um insight. Desolado, olhei
para as fôrmas dos sapatos e simultaneamente a formas dos meus pés e algo iluminou
minha mente. Consegui articular o encaixe dos pés pela percepção da forma de
cada pé com as fôrmas de cada sapato, encontrando a solução e o alivio foi
imediato. Posso supor que ocorreu, por ananlogia, algo semelhante a uma operação
simples de regra de três (matemática). É oportuno ressaltar que, de matemática
eu nada entendia, pois a idade mínima exigida para se iniciar o curso primário,
na época, era de 7 anos.
Calcei
os sapatos sem dificuldades, o que antes não sabia fazer. Sempre dependia de
minha mãe para calçar os sapatos, por virgindade daquele ato, cuja novidade ficou
consolidada na minha consciência, pois nunca mais dependi de minha mãe para tal
finalidade, Assim como outras atividades relacionadas com higiene, vestuário,
cama, etc.
O
que me surpreendeu foi que realmente , por mais simples que seja, que tal fato
tenha sido um ato libertador para o penoso processo de inserção na civilização,
pois não me lembro de outros eventos similares anteriores àquela idade.
Certamente muitos outros eventos já teriam acontecidos, mas não daquela forma
de compreensão.
Lembro-me
muito pouco da minha pequena infância, mas sei, de forma sintomática, que não
foi muito fácil o natural percurso de desvinculação dos laços afetivos
familiares com o mundo externo no qual fui inserido.
Ingressei-me
no grupo escolar aos sete anos de idade, como condição regulamentada. Aos
poucos fui aprendendo, também, como me preparar e vestir o uniforme, por
iniciativa própria, mas dominado por uma angustia inominável. Que bom que eu
aprendi a me preparar para o meu ingresso na civilização, mas, há um risco.
Afinal, não existia outo meio. Vejamos o que disse o Grande Pensador Rubens
Alves: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”
Frequentar
a escola para mim era tudo uma obrigação sem sentido e desagradável. Tomei até
antipatia do banho e do uniforme escolar. Sentia-me invadido por algo
misterioso e indesejável, retirando-me do aconchego e da zona de conforto.
Disso,
eu nada entendia. Nem tampouco na escola primária, como por exemplo: a lógica
da análise sintática da disciplina Língua Pátria, aprendia no decoreba. Mas,
quando a situação era de pánico (provas) eu me lembrava e revivenciava aquele
importante insight. Assim, passei a entender matemática dentro da sua lógica
formal (pois tinha facilidade), tudo melhorou para outras disciplinas. Faz
sentido para a natureza humana? Talvez sim!.
CAIXA PRETA - Roberto Lanza
11/08/2021
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