quarta-feira, 11 de agosto de 2021

UM FATO CURIOSO

 

UM FATO CURIOSO...

 

Sem possibilidade de precisão, possivelmente, quando eu teria em torno de cinco anos de idade, ocorreu-me um fato relevante na minha história singular, durante a colheita de jabuticabas num pomar pertencente a um fazendeiro nosso conhecido, com mais de uma dezena de pés da referida fruta. 

 

O sol estava radiande e no interior do jaboticabal eu me sentia inserido numa chuva de raios solareles que atravessavam as folhas, ornmentando todo o ambiente e ainda estrelava o chão.  O cenário era maravilhoso e invadia-me criando um estado de alma diferenciado do cotidiano.

 

Eu estava acompanhado de minha família, juntamente com outros familiares vizinhos e dentro do pomar tirei os sapatos para subir nos pés de jabuticaba. De pé em pé fui colhendo a fruta e, ao mesmo tempo, mapeando no meu cérebro de sabores e outros fenômenos naturais. Eu nem sequer percebia onde realmente estava. Tratava-se de percepção pura da natureza onde eu me sentia parte integrante dela.

 

Contagiado pelo o Dom da vida, fui sendo invadido por uma sensação de euforia e de liberdade inerente à existência de algo belo que me contagiava interiormente. Assim, persistindo na minha distração, fui me afastando do grupo de familiares. O tempo foi passando suavemente quando de repente notei que a minha família já não se encontrava mais naquele ambiente. Na verdade, já se encotravam no interior da Sede da Fazenda.

 

Quando me deparei com o momento real, com o dia já anuciando o entardecer,  eu me encontrava sozinho e fui tomado de muita aflição. Gritei pela minha mãe, mas foi em vão. Desci do pé de jabuticaba corri atrás dos meus sapatos, mas não conseguia caminhar descalço naquele solo cheio de gravetos perfurantes. Gritei por socorro novamente, mas foi em vão. A aflição invadia-me cada vez mais causando um profundo sentimento de desamparo. Foi uma experiencia inesquecível mas, extremamente útil para a minha vida.  

 

Cuidadosamente encontrei os meus sapatos e sentado no chão surgiu-me um insight. Desolado, olhei para as fôrmas dos sapatos e simultaneamente a formas dos meus pés e algo iluminou minha mente. Consegui articular o encaixe dos pés pela percepção da forma de cada pé com as fôrmas de cada sapato, encontrando a solução e o alivio foi imediato. Posso supor que ocorreu, por ananlogia, algo semelhante a uma operação simples de regra de três (matemática). É oportuno ressaltar que, de matemática eu nada entendia, pois a idade mínima exigida para se iniciar o curso primário, na época, era de 7 anos.

Calcei os sapatos sem dificuldades, o que antes não sabia fazer. Sempre dependia de minha mãe para calçar os sapatos, por virgindade daquele ato, cuja novidade ficou consolidada na minha consciência, pois nunca mais dependi de minha mãe para tal finalidade, Assim como outras atividades relacionadas com higiene, vestuário, cama, etc.

O que me surpreendeu foi que realmente , por mais simples que seja, que tal fato tenha sido um ato libertador para o penoso processo de inserção na civilização, pois não me lembro de outros eventos similares anteriores àquela idade. Certamente muitos outros eventos já teriam acontecidos, mas não daquela forma de compreensão.

Lembro-me muito pouco da minha pequena infância, mas sei, de forma sintomática, que não foi muito fácil o natural percurso de desvinculação dos laços afetivos familiares com o mundo externo no qual fui inserido.

Ingressei-me no grupo escolar aos sete anos de idade, como condição regulamentada. Aos poucos fui aprendendo, também, como me preparar e vestir o uniforme, por iniciativa própria, mas dominado por uma angustia inominável. Que bom que eu aprendi a me preparar para o meu ingresso na civilização, mas, há um risco. Afinal, não existia outo meio. Vejamos o que disse o Grande Pensador Rubens Alves: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”

Frequentar a escola para mim era tudo uma obrigação sem sentido e desagradável. Tomei até antipatia do banho e do uniforme escolar. Sentia-me invadido por algo misterioso e indesejável, retirando-me do aconchego e da zona de conforto.

Disso, eu nada entendia. Nem tampouco na escola primária, como por exemplo: a lógica da análise sintática da disciplina Língua Pátria, aprendia no decoreba. Mas, quando a situação era de pánico (provas) eu me lembrava e revivenciava aquele importante insight. Assim, passei a entender matemática dentro da sua lógica formal (pois tinha facilidade), tudo melhorou para outras disciplinas. Faz sentido para a natureza humana? Talvez sim!.


CAIXA PRETA - Roberto Lanza

11/08/2021

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