sexta-feira, 21 de agosto de 2015

APARELHO PSIQUICO


Freud durante suas pesquisas sobre a formação do aparelho psíquico, ele concluiu que o aparelho psíquico não é psíquico, ele é um aparelho de linguagem. Ele  não concebe um aparelho de linguagem como constituído na relação com o mundo, mas como construído na relação com outro aparelho de linguagem.

O aparelho de linguagem forma-se aos poucos, elemento por elemento, na relação com o outro aparelho de linguagem
, e é apenas por referência a esse outro que ele funciona. É importante que se entenda esse “outro” como sendo outro aparelho de linguagem e não como sendo o mundo. O mundo, por si só, não é capaz de produzir um aparelho de linguagem e é, apenas, no seio de uma pluralidade de aparelhos de linguagem que um novo aparelho de linguagem poderá surgir.

É, portanto na relação com outro semelhante, enquanto falante, que o aparelho de linguagem se forma, e não na relação enquanto objeto do mundo. Mesmo o outro, enquanto objeto do mundo, só se constitui como objeto a partir da linguagem, a qual cria o denominado "campo da realidade". Todos
nós nascemos totalmente analfabetos. 

Na realidade o mundo não tem cor, não tem cheiro, não tem sons e nem sequer sabores. São os nossos cinco sentidos que transformam as combinações químicas em sabores e cheiros, as vibrações sonoras em sons e ruídos e os espectros da luz o cenário físico do mundo exterior.


Portanto, não é a coisa que fornece a significação do objeto. Por exemplo: esse vinho é muito saboroso..Não se trata, pois, de uma auto-enunciação pela coisa. O que a coisa fornece são elementos sensíveis, impressões, que somente adquirirão unidade de objeto a partir da linguagem, mais especificamente da relação que esses elementos mantêm com a representação-palavra. Sem essa articulação representação-coisa e representação palavra não haverá apenas aparelho de linguagem, como também não haverá aparelho psíquico. O animais se comunicam mediante uma linguagem apropriada fornecida plea natureza.

A representação-objeto não é, uma representação icônica da coisa, não é semelhante à coisa, mas apenas
índice da coisa. Seu significado é dado pela representação-palavra e não pela coisa. Isto quer dizer que as representações, sejam elas representação-palavra ou representação-objeto, remetem-se umas às outras de tal maneira que formam entre si uma trama ou uma rede de articulações, de signos / signos que na função significante remetem a signos e não a coisas.

É impossível, portanto, imaginarmos o aparelho psíquico como algo que se esgota em si mesmo. Não se trata de um aparelho já pronto que, em seguida, entra em relação com o outro e com o mundo. O aparelho psíquico não é em-si, é para-si, e é nessa relação ao outro que se constitui consciência de si.

A verdade porém é que sua concepção do aparato psíquico encaixa-se perfeitamente com a tese fundamental de Hegel de que o desejo do homem é o desejo do outro, ou, se preferirmos, que o desejo humano é desejo de desejo. Essa dependência fundamental do aparato psíquico para com a linguagem coloca uma questão: a do próprio estatuto do aparelho psíquico. Assim o aparelho psíquico é um aparelho simbólico e não um aparelho psicológico.

Por outro lado, não há aparelho psíquico sem memória, não sendo entendida como uma faculdade ou uma propriedade deste aparato, não é algo que surge depois do aparato já constituído, mas algo que é formador do próprio aparato. Não é o aparelho psíquico que é pré-condição para que se forme o aparato psíquico e sim a linguagem Sem a linguagem a pessoa desaparece e o mundo também.

As opiniões e desejos de outras pessoas fluem para dentro de nós através do discurso. Nesse sentido, podemos interpretar o enunciado de Lacan de que o inconsciente é o 
discurso do OUTRO (Grande outro - pais, família, parentes, instituições, Deus, religião, etc...) ou melhor dizendo: inconsciente está repleto da fala de outras pessoas, das conversas de outras pessoas, e dos objetos, aspirações e fantasias de outras pessoas (na medida em que estes são expressos em palavras). Assim, vivemos num mundo bastante enigmático

CAIXA PRETA Roberto Lanza
21/08/2015

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