segunda-feira, 27 de novembro de 2017

ALMA GÊMEA

No mais íntimo do nosso SER, nutrimos a fantasia de que alguém vai nos completar, como se fosse "alma gêmea".
Na realidade, o que esperamos deste encontro? As artes, as músicas, os mitos, as lendas, etc. parecem que fundamentam e atestam tal condição. Somos realmente peregrinos na busca de algo intimamente relacionado com uma pessoa que fosse misteriosamente nossa. Na ilusão, buscamos a plenitude, para nos sentirmos completos e inteiros.
Infeliz daquele que ignora os riscos e as possibilidade de encontrar pela vida alguém, acreditando que haverá plenitude desse encontro. Haverá sim um encontro, mas será de duas faltas. A sua e a do outro. Se não for percebido isso o perigo é maior que da ilusão e vem logo a desilusão..
Estar inteiro é assumir-se como ser humano saudavelmente independente. Seja, portanto, um ser inteiro antes de ser apenas a metade de um casal. Eu gosto de dizer que casado é feito de dois inteiros e não de duas metades. Somente um ser inteiro pode dizer que ama e é amado. Por que ser apenas metade se você é um individuo e seu parceiro (a) também é outro?
Afinal, querer satisfação plena todo mundo quer. Mas abrir mão de si pelo outro é impossível e pouco recomendável. O justo seria tentar ser fiel ao próprio desejo, mas deixando de ter certo cuidado com a forma de lidar com isso. Afinal orientar por uma ética mais solidária talvez seja a saída. Tentar levar as coisas de tal modo que, sendo fieis ao próprio desejo, não esqueçamos de que o outro existe e que esta alteridade deve ser considerada. Isso é difícil, mas não impossível. Afinal, que graça teria se na vida fosse tudo muito fácil?
É difícil ao homem enfrentar-se e encontrar-se a si mesmo. Avido de exterioridade, sua avidez o conduz ao Vazio. E, fugindo ele de si mesmo encontra-se com a tortura da imensidão de coisas que se abrangem nos sentido”. (Da Ordem 2,10,30).
E ainda:
“Por que se dispersa fora? Começou a entregar seu coração ao exterior e perdeu-se a si mesmo. Quando o homem, por amor a si mesmo, entrega seu coração às coisas de fora, perde-se na fluidez dessas coisas e, de certo modo, dissipa prodigamente suas forças. Esvazia-se de si. Despedaça-se”. (Sermões 96,2)
Como podemos entender tais pensamentos filosóficos?
“Ao Ego, será sempre impossível a plenitude! Como “filho legítimo” da Grande Separação, do surgimento do “eu separado”, do Adão (que vem do Sânscrito: adhi – aham – “primeiro eu”), sempre lhe faltara algo – pois ele sofre a perda da identidade com o todo, desde que se diferenciou dessa matriz primordial, ontológica, representada inicialmente no psiquismo individual pelo útero materno e, logo após, pela relação simbiótica e edipiana com a figura materna. E em busca desse Algo ele tece desde o nascimento uma teia de incontáveis desejos na esperança inconsciente de sustentar-se sobre o imenso vazio existencial, num desespero inaudível de busca de sobrevivência e auto justificativa para o devir dessa existência.
Ele (o ego) se esforça laboriosamente através da vigília e do sono para satisfazer a cada um dos seus desejos, ora justificando-os como instintos naturais e intransponíveis, ora vestindo-os em trajes mais nobres, como algum bem social  moral, cientifico ou até mesmo espiritual”.(Professor Afonso Celso L. Wanderley.)
Por outro lado, existe uma espécie de lei inscrita em cada ser: na qual ele é feito para a alegria e não para o sofrimento. Viver é uma miscelânea de sentimentos, como dores, alegrias, tristezas, prazeres, euforia, amor, felicidade, sem parâmetros de balizamento. Nada disso é coletivo (é pessoal) e nem sequer transferível. Daí a felicidade tornar-se um episódio transitório e repetitivo.
Para grande maioria das pessoas, a vida é um processo de gozar o possível do corpo, reservando-se para a luz da fé as ocasiões de sofrimento inadiáveis. Nossa verdadeira natureza é a paz; a verdade; o amor; a felicidade;... São as crenças cegas que fazem nossa vidas infelizes.
Neste sentido, vejamos o que diz o poeta Vicente de Carvalho (1866-1924) em seu Poema Velho Tema, no qual ele exprime essa arrigada condição humana: a incapacidade de sermos felizes por não valorizarmos o que a vida nos oferece.  

Só a leve esperança, em toda vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada.
Nem é mais a existência, resumida.
Que uma grande esperança malograda
.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansioa e embevecida,
È uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda vida

Essa felicidade que supomos,
Arvore milagrosa que sonhamos,
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde estamos.

Felicidade, árvore frondosa de dourados pomos. Existe, sim, mas nós nunca a encontramos porque ela está sempre apenas onde nós a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos.
CAIXA PRETA - Roberto Lanza

quinta-feira, 16 de novembro de 2017


HORIZONTE DA INCOMPLETUDE
 
 Assim dizia o filósofo (desconhecido):

“Vemos as coisas tal como se afiguram à nossa cabeça. Portanto, precisamos conhecer a nossa cabeça”.

No âmago do ser humano há uma fonte que nutre a fantasia de que em algum lugar alguém está nos esperando sem nem saber que a gente existe e, no entanto, pensando em nós com se fôssemos “almas gêmeas”.

Na realidade, o que esperamos deste encontro? As artes, as músicas, os mitos, as lendas, etc. parecem que vêm atestando tal condição, de forma metafórica Somos realmente peregrinos na busca de algo intimamente relacionado com a plenitude, para nos sentirmos completos e inteiros.

Infeliz daquele que ignora os riscos e as possibilidade de encontrar pela vida alguém, acreditando que haverá plenitude desse encontro. Haverá sim um encontro, mas será de duas faltas. A sua e a do outro. Se não for percebido isso o perigo é maior que da ilusão e vem logo a desilusão..

Estar inteiro é assumir-se como ser humano saudavelmente independente. Seja, portanto, um ser inteiro antes de ser apenas a metade de um casal. Eu gosto de dizer que casado é feito de dois inteiros e não de duas metades. Somente um ser inteiro pode dizer que ama e é amado. Por que ser apenas metade se você é um individuo e seu parceiro (a) também é outro? Se Deus nos fez originais, por que insistirmos em sermos cópias?

Afinal, querer satisfação plena todo mundo quer. Mas abrir mão de si pelo outro é impossível e pouco recomendável. O justo seria tentar ser fiel ao próprio desejo, mas deixando de ter certo cuidado com a forma de lidar com isso. Afinal orientar por uma ética mais solidária talvez seja a saída. Tentar levar as coisas de tal modo que, sendo fieis ao próprio desejo, não esqueçamos que o outro existe e que esta alteridade deve ser considerada. Isso é difícil, mas não impossível. Afinal, que graça teria se na vida fosse tudo muito fácil?

“É difícil ao homem enfrentar-se e encontrar-se a si mesmo. Ávido de exterioridade, sua avidez o conduz ao Vazio. E, fugindo ele de si mesmo encontra-se com a tortura da imensidão de coisas que se abrangem nos sentido”. (Da Ordem 2,10,30).
 
E ainda:

“Por que se dispersa fora? Começou a entregar seu coração ao exterior e perdeu-se a si mesmo. Quando o homem, por amor a si mesmo, entrega seu coração às coisas de fora, perde-se na fluidez dessas coisas e, de certo modo, dissipa prodigamente suas forças. Esvazia-se de si. Despedaça-se”. (Sermões 96,2)

Como podemos entender tais pensamentos filosóficos?

“Ao Ego, será sempre impossível a plenitude! Como “filho legítimo” da Grande Separação, do surgimento do “eu separado”, do Adão (que vem do Sânscrito: adhi – aham – “primeiro eu”), sempre lhe faltara algo – pois ele sofre a perda da identidade com o todo, desde que se diferenciou dessa matriz primordial, ontológica, representada inicialmente no psiquismo individual pelo útero materno e, logo após, pela relação simbiótica e edipiana com a figura materna. E em busca desse Algo ele tece desde o nascimento uma teia de incontáveis desejos na esperança inconsciente de sustentar-se sobre o imenso vazio existencial, num desespero inaudível de busca de sobrevivência e auto justificativa para o devir dessa existência.

Ele (o ego) se esforça laboriosamente através da vigília e do sono para satisfazer a cada um dos seus desejos, ora justificando-os como instintos naturais e intransponíveis, ora vestindo-os em trajes mais nobres, como algum bem social  moral, cientifico ou até mesmo espiritual”. (Professor Afonso Celso L. Wanderley).

Por outro lado, existe uma espécie de lei inscrita em cada ser: na qual ele é feito para a alegria e não para o sofrimento. Viver é uma miscelânea de sentimentos, como dores, alegrias, tristezas, prazeres, euforias, amores, felicidades, tudo sem parâmetros de balizamento. Nada disso é coletivo (é pessoal) e nem sequer transferível. Daí a felicidade tornar-se um episódio transitório e repetitivo.

Para grande maioria das pessoas, a vida é um processo de gozar o possível do corpo, reservando-se para a luz da fé as ocasiões de sofrimento inadiáveis. Nossa verdadeira natureza é a paz; a verdade; o amor; a felicidade;... São as crenças cegas que fazem nossa vida infeliz.
 
Neste sentido, vejamos o que diz o poeta Vicente de Carvalho (1866-1924) em seu Poema Velho Tema, no qual ele exprime essa arrigada condição humana: a incapacidade de sermos felizes por não valorizarmos o que a vida nos oferece.  
 
           Só a leve esperança, em toda vida,
           Disfarça a pena de viver, mais nada.
           Nem é mais a existência, resumida.
           Que uma grande esperança malograda
 
           O eterno sonho da alma desterrada,
           Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
           È uma hora feliz, sempre adiada
           E que não chega nunca em toda vida
 
           Essa felicidade que supomos,
           Arvore milagrosa que sonhamos,
           Toda arreada de dourados pomos,
           Existe, sim: mas nós não a alcançamos
           Porque está sempre apenas onde a pomos
           E nunca a pomos onde estamos.

           Felicidade, árvore frondosa de dourados pomos. Existe, sim, mas nós nunca a encontramos porque ela está sempre apenas onde nós a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos.

CAIXA PRETA Roberto Lanza
 

 

 

A LÓGICA DO VAZIO VAZIO


O atual Governo e, em especial, o Congresso Nacional  diante de tanta avidez de possessividade (reeleição a qualquer preço) e de tantas ações para benesses corporativistas, em detrimento de benefícios sociais, acaba desembocando na lógica do vazio. Todos os corporativismos dentro de qualquer corporação resultam na soma dos zeros. Melhor dizendo, nada contribuem para a corporação. Pelo contrário, quando em excesso, tornam-se um discurso vazio, sem conteúdo, emitido por cada membro de obscura autoridade, cuja postura cada vez mais negativa, que, quanto mais se expressa, menor é a  sua credibilidade. O que está faltando é o cooperativismo.

As palavras dos profetas, desde a Antiga Grécia, eram cheias de verdade, eram palavras plenas em sintonia com as condições de enunciação como signos e não apenas pelo seu sentido manifesto, para que ao serem decifrados para outro sentido, pudesse emergir em intermináveis decifrações positivas

Daí “o efeito bolha”. Aqueles políticos que agem como os profetas da antiguidade merecem permanecer dentro do aquário. Em contrapartida, aqueles de menor densidade política e que adotam o discurso das aparências, subirão para a tona, tornando transparente sua verdadeira intensão.  Mas, a natural força de empuxo da sabedoria popular percebe tudo, As palavras que nada exprimem tornam-se cada vez mais evidente o primado do narcisismo do protagonista.

Nós os brasileiros que temos orgulho desta Nação, muito temos a agradecer ao Exmo. Dr. Sérgio Moro da Justiça Federal de Curitiba, à Policia Federal e ao Exmo. Procurador Geral da República, os quais vêm descortinando o véu da verdade.


CAIXA PRETA Roberto Lanza.
16/11/2017

CREDIBILIDADE









Você acredita no atual Congresso Nacional?

Quem tem que responder tal questão é o humano que come; que bebe; que chora; que ri; que sofre; que tolera; etc... Mas, que também é eleitor!

CAIXA PRETA – Roberto Lanza

15/11/2017

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O ENGODO DO IMAGINÁRIO


ENGODO DO IMAGINÁRIO

Quando o homem nasce é lançado fora de uma situação que era definida, tão definida quanto os instintos, para uma situação indefinida, incerta e exposta. Somente há certeza com relação ao passado – e, quanto ao futuro, apenas com relação à morte. O homem é dotado de razão: é a vida consciente de si mesma: tem consciência de si mesmo como entidade separada, a consciência do seu curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade.

Essencial na existência do homem é o fato de que ele emergiu do reino animal, da adaptação instintiva, transcendeu a natureza – embora sem nunca a deixar; é parte dela – e, contudo, uma vez desviado da natureza e expulso do paraíso– estado da unidade original com a natureza não pode mais voltar a ela.

O homem só pode ir à frente desenvolvendo sua razão, encontrando uma nova harmonia, que seja humana, em lugar da harmonia pré-humana irrecuperavelmente perdida.

A natureza é completamente indiferente à sobrevivência dos seres vivo. Ela é potencialmente providencial. Cada ser vivo deve por si só promover a sua sobrevivência. È evidente que existe um princípio inteligente que atua em favor da vida. A não-indiferença representa o início do "importar-se", o reconhecimento da imagem do outro, a importância de alguém que ocupa espaço físico, temporal, que faz diferença!

Porém, é importante fazer uma distinção: enquanto as coisas são, os valores Não são, mas valem! Quando dizemos de algo vale, não dizemos nada do seu ser, mas dizemos que não é indiferente. A não-indiferença constitui esta variedade ontológica que contrapõe o valor ao ser. Assim, a não indiferença é a essência do valor.

 No caso do ser humano o “princípio da não-indiferençasignifica que não permanecemos indiferentes diante dos seres que constituem o nosso mundo familiar. Eis aí o embrião da fantasia da separatividade, pois constantemente atribuímos a eles valores bipolarizados: belo e feio, bom e mau, divino e profano, verdadeiro e falso, generoso e cínico e assim por diante, construídos pelo registro do imaginário e do engodo.  

“Não há possibilidade de sobrevivência sem o todo, sem o uno. Conviver com a dualidade em uma condição de vida ou morte. Se a mente se caracteriza por ser dual, por separar, dividir, confrontar, julgar, destacar, essa mesma mente jamais poderá apreender a realidade se esta for molar, global, una ou se pelo menos for ”não dual”. Sendo a mente dual, e sendo a dialética um processo puramente mental e que consiste em analisar ou procurar apreender a realidade através da mente, a própria dialética está condenada, pela natureza do instrumento mental que escolheu a oscilar constantemente entre um homogêneo e um heterogêneo, impossíveis de absolutizar pelo fato de o próprio instrumento, autor desta oposição, ser, ele mesmo, feito de energia”. (WEIL, Pierre. As Fronteiras da Evolução e da Morte, Editora Vozes -1990. 4ª Edição, pág. 29)


CAIXA PRETA – Roberto Lanza

15/11/2017