A natureza é com certeza
providencial, mas completamente indiferente à sobrevivência dos seres vivos.
Cada ser vivo deve por si só promover a sua sobrevivência. A não-indiferença
representa o início do "importar-se", o reconhecimento da imagem do
outro, a importância de alguém que ocupa espaço físico, temporal, que faz
diferença!
Porém, é importante fazer uma distinção: enquanto as
coisas são, os valores valem. Parafraseando Garcia Morente, podemos dizer que
"os valores não são, mas valem. Quando dizemos de algo que vale, não
dizemos nado do seu ser, mas dizemos que não é indiferente. A não-indiferença
constitui esta variedade ontológica que contrapõe o valor ao ser. A não
indiferença é a essência do valor".
Distinção entre juízos de realidade e juízos de valor. Os
primeiros, enquanto constatação da realidade (ex.: isto é uma mesa) e os
últimos, enquanto qualidade do conteúdo, podendo ser atrativa ou repulsiva, boa
ou má e assim por diante.
No caso do ser humano o princípio da “não-indiferença
é a essência do valer". Isso significa que não permanecemos indiferentes
diante dos seres que constituem o nosso mundo familiar, pois constantemente
atribuímos a eles valores bipolarizados: bom e mau, verdadeiro e falso,
belo e feio, generoso e mesquinho, sublime e ridículo, e assim por diante.
Já no caso do ser humano o “principio da não-indiferença” já inicia
até mesmo antes do Bebê nascer. Geralmente, há um ambiente organizado para recebê-lo De fato, o ser
humano faz parte de uma estrutura, uma vez que ninguém chega num vazio. Em
relação aos pais, à família, à cultura, já existe certo lugar reservado para a
criança que ainda não nasceu ela já tem o seu lugar marcado. Isso significa que
a vida de um indivíduo tem suas determinações fora dele, determinações
anteriores e fora dele, diferentemente dos animais.
A essa estrutura na qual
todo ser humano se insere, a essa estrutura externa ao sujeito e que o
determina, é chamada pela psicanálise de Outro (Grande outro). Podemos,
então, supor que surgirá o marco inicial do sentimento de apego e, em contra
partida, a aquisição de um adimensional sentimento de auto-despossessão.
Destarte, nós seres humanos
vivemos inseridos num mundo “estrangeiro” onde tudo que não sou
eu é outro e tudo que não é meu é do outro. E mais, eu sou o outro do meu
próximo e vice-versa. Tudo isso resulta numa obscura autoridade, repleta de
crenças, de arquétipos, de egrégoras, religiões, mitos, lenda, fadas, etc.
Nosso inconsciente anda repleto de falas, sugestões, opiniões dos outros. O que
significa dizer que nossa mente (inconsciente) é estruturada como o discurso do
Outro.
Torna-se importante entender
que esse Outro não é uma pessoa, mas
uma estrutura externa que gradativamente inscrever-se-á na estrutura psíquica
do indivíduo.
Assim, o sujeito, por
definição, está determinado desde fora dele, e o Outro deve ser pensado como uma referência que são os
parâmetros da vida desse sujeito, o que ele é.
Daí a pergunta: Que outro é esse que não sou eu ao qual sou
mais apegado? Portanto, é importante salientar que o humano se trata de um ser de existência alienada, num
desconhecimento crônico de si mesmo. Implica que o sujeito não sabe quem ele é.
E, ainda: falta-lhe a inconsciência animal para poder viver em paz consigo
mesmo e com a indiferença da natureza.
Significa que a diferença dos demais é que atribui valor
a alguma coisa. Por exemplo, você ser diferente dos demais estudantes, é o que
lhe dará valor, agora, se o valor é bom ou ruim aí é com você, ou com o que se
está lidando.
O que é ser indiferente? É ser comum, qualquer, igual a
todos. Quando é citado o "não", todos esses conceitos são invertidos.
Reescrevendo, com o mesmo sentido, temos: "A diferença é a essência do
valer". Significa que "O valer à pena" é marcado pela diferença.
Ex: Para valer a pena, mostre o seu diferencial. Afinal, quem não quer ser
reconhecido? Quem não quer ser distinguido?