A linguagem,
na época em que vivemos, era da tecnologia de ponta, está a serviço da imagem e é por ela sustentada. O predomínio
da imagem sobre a palavra não poderia ocorrer sem a explosão da técnica que
passou a ocupar todos os recantos da vida cotidiana. O seu símbolo é o
“outdoor”, máximo de exposição no mínimo de espessura. A era da técnica sustenta-se
no seu descomunal sucesso.
A tecnologia
é vista como o bem mais precioso. Sem o qual a vida de uma nação pode perigar.
A devoção ao culto do imaginário, diante da televisão ou computador, torna o
homem exilado da palavra, portanto da impossibilidade da simbolização que
viabiliza o verdadeiro sentido de vida.
Por
outro lado, em sociedade de consumo, vivemos hoje em uma espécie de evidência
do consumo e da abundância, criada pela multiplicação de objetos, na qual os
homens da opulência não se cercam mais de outros homens e sim de objetos (Tv´s,
carros, computadores, telefones...). Suas relações sociais não estão centradas
com outros homens, mas na recepção e manipulação de bens e mensagens. Essa
deterioração dos laços sociais e o empuxo ao prazer solitário só estimulam a
ilusão da completude não mais com um par, mas com parceiro conectável ao
alcance da mão. O resultado não pode ser outro senão a decepção e a tristeza, o
tédio e a nostalgia do Um em vão prometido.
A imagem é completa, indicadora
imediata de ações cuja função é o domínio da realidade. Mas ao mesmo tempo
esvazia a palavra de seu poder nomeador e assim esvazia o homem do seu poder de
inter-relacionamento. A evasão do real de uma região obscura para o despertar
da realidade da vida, somente pode ser viabilizado pela palavra, através do
caminho da simbolização, mas pelo discurso pleno, em contraposição à
tagarelice, o discurso vazio.
O homem desprovido de sou poder de
ser, isto é, de se expandir a partir do que é, infla-se na acumulação do que
não é, no inessencial. Dessa forma, ele instalou-se no falatório no qual tenta,
em vão, preencher o vazio sem fundo, ao mesmo tempo em que seu ego infla-se.
A palavra que nada diz, depaupera a
própria palavra. O homem sem a palavra é, na verdade um ruído. Fica
irremediavelmente aprisionado em sua subjetividade, como acontece com os
pichadores das paredes das escolas, quanto mais se exprimem, menos há a dizer.
Isso é precisamente o narcisismo, a
expressão a todo custo, o primado do ato de comunicação sobre a natureza do que
é comunicado, a indiferença dos conteúdos, comunicação sem finalidade nem
público, o destinador tornado o seu principal destinatário.
Domado pela palavra etiqueta, o novo
objeto de passageira curiosidade e, rapidamente, é lançado no esquecimento. A
transparência total é a linguagem do pragmatismo virulento, linguagem única,
exclusiva da era técnica, onde imagem é critério de verdade. Ela eliminou a
possibilidade de existência do invisível. As palavras já não trazem mais a “carga
e o poder de evocar”, novas possibilidades.
Escutar exige esforço maior do que
ver. Escuta-se por partes, que devem ser interpretadas à medida que são
recebidas. A imagem aparece à vista como algo completo, que pouco exige do
expectador. O que ocorre hoje, é que vivemos na era da exclusividade da imagem.
A primeira consequência desse fato é o desaparecimento da linguagem como lugar
da verdade.
Na palavra diz-se possibilidade, o que
ainda não é pode vir a ser. Ser da possibilidade, no encontro consigo mesmo.
Sem as palavras os conflitos permanecem ocultos.
CAIXA PRETA Roberto Lanza
08/01/2015
Nota:
Texto compilado do original do Dr. Djalma Teixeira de Oliveira, publicação nº
3, MAIO/1999/2000, revista VORSTELLUNG
do GREP (Grupo de Estudos Psicanalíticos de Belo Horizonte).
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