O
Senhor Buda disse:
“Ensinai-vos a não
crer simplesmente porque ouviste, mas, porque, em vossa consciência, acreditais
no que ouvistes; agi, então, de conformidade com aquilo em que credes, e
copiosamente”.
Doutrina Secreta, III, 401.
Nós
seres humanos, temos o hábito de viver uma expectativa de algo misterioso relacionada
com um devir. Isto é um sinal de que nada está indo bem conosco. Estamos sempre
insatisfeitos, sempre faltando algo que geralmente nos atormenta, deixando-nos
desassossegados. Temos ainda, em nosso âmago, uma sensação de que existe algo
vivenciado, semelhante a um paraíso perdido. Temos ainda a sensação de que existirem duas pessoas habitando dentro de nós, com propósitos contrários.
Somos
criaturas em perfeita harmonia com a natureza. Cada um de nós traz consigo o
material necessário para a realização pessoal. É tolice viver anulando nossas
capacidades para valorizarmos as qualidades dos outros. Ninguém é melhor que
ninguém, mas às vezes insistimos em acreditar nisso.
Num
mundo onde as imagens ditam os valores das pessoas, corremos o risco de
esquecer nosso real valor por não sermos enquadrados nos padrões impostos como
ideais. Frequentemente somos assombrados por uma mentalidade baixa que quer nos
obrigar a aplaudir as qualidades dos outros e esquecer-se das nossas. Talvez
seja por isso que vivem desacreditados da vida: perderam a identidade
por querer ser aquilo que não é.
Há um pensamento popular que diz: “Eduque uma criança para ser
feliz e não para vencer na vida. Pois assim, ela aprenderá a viver na busca de
valores e da verdade, e não na busca de custos para as aquisições culturais,
sociais, afetivas e patrimoniais”. Neste último caso, ela se sente excluída do
mundo, confundindo coisas com valores e ainda sem referenciais para escolher
suas próprias preferências.
É do conhecimento comum, que existem crianças muito amadas e muito
protegidas pelos pais e, por outro lado, outras crianças muito maltratadas
pelos pais. Na realidade existem diversas modalidades de criação paras as
crianças, mas qualquer que seja a modalidade de criação assim influenciará no
destino do futuro adulto. Freud dizia: “O adulto nada mais é do que o filho da criança
que foi”,
Segundo prega a filosofia, quando crianças, estamos sujeitos à
duas decepções:
"A de que os seres,
as coisas, os mundos maravilhosos não existem de verdade e a de que os adultos
podem dizer falsidades e nos enganar. Essa dupla decepção pode acarretar dois
resultados opostos: ou a criança se recusa a sair do mundo imaginário e sofre
com a realidade como alguma coisa ruim e hostil a ela; ou, dolorosamente,
aceita a distinção, mas também se torna muito atenta e desconfiada diante da palavra dos adultos. Nesse segundo
caso, a criança também se coloca na disposição da busca da verdade". (Marilena Chaui.
Convite à Filosofia, Unidade 3, Capítulo 1).
Por isso, para mudar comportamentos das pessoas, de forma eficaz e
duradoura, primeiramente é preciso mudar as concepções que os fundamentam. Particularmente,
para aquelas crianças que, infelizmente, foram “adestradas” para agradar a mãe
e aos outros, os fundamentos que determinam suas atitudes e comportamentos são direcionados
a depender, durante a existência inteira, das coisas externas, dos outros, em
quem, certamente, fundamentara a própria autoestima. Tudo isso em razão de
terem que reprimir parcialmente ou negar sua verdadeira natureza, Também,
quando adultas, vão continuar a procurar a própria identidade, a realização
pessoal, empenhando-se em ser boas a qualquer custo, em ter sucesso, em agradar
os outros, para manter boa autoimagem. Tem valor só em função dos outros.
Quando se encontram em situações negativas, perdem todo tipo de
força interior. Ao invés de enfrentarem a vida como um desafio, elas sentem-se
impotentes, desesperam-se.
Além disso, para essas pessoas, o passado, os sucessos alcançados,
a existência inteira vivida, tudo desaparece automaticamente diante do impasse
que estão vivendo. Mas, se tiverem talento, podem tornar-se artistas, porque
conseguem expressar melhor a própria natureza numa atividade criativa,
fantasiosa, melhor que em sua relação com os outros seres humanos.As personalidades complacentes geralmente são:
Ø A vida não vai além de um acontecimento infeliz, de fracasso, de
um erro;
Ø Sentem-se só no meio dos outros e estranha a si mesma e aos outros:
Ø Subestima a si mesma do sucesso, mas valoriza muito os outros;
Ø Não acreditam que têm individualidade própria;
Ø Temem provocar sua ira e ofendê-los
Ø De algum modo, a agressividade foi reprimida da criança;
Essa patologia causa nas pessoas uma condição de serem sempre
muito conciliadoras e afetuosas com os outros porque temem contradizê-los.
Geralmente são dotadas de atributos masoquistas de complacência para
com os outros. Segundo especialistas da área, à repressão da agressividade, que
amealhou na pequena infância em função das suas relações com as figuras materna
e paterna. Talvez tenha sido rejeitada ou recusada, mesmo de forma aparente ou
por comportamentos de indiferença dos pais, sendo obrigada a obedecer a leis
contrárias à sua natureza. Assim, ela cresce odiando a si mesma em razão de ser
tolhida a sua própria personalidade.
Em geral, essas pessoas não conseguem enfrentar os outros, não se
fazem valer. Essas pessoas sentem necessidade de solidão. Temem os seres
humanos. Vivem em autodestruição.
Isso vai criar nelas uma forte fraqueza em relação a
eventuais fracassos, traições, inimizades e rejeições. Esses fatos negativos
provocam em todas elas à depressão, a ansiedade, a angústia, porém
temporariamente.
No tocante às pessoas complacentes, contudo, caem em estado de
depressão profunda, grave por adotarem uma solução regressiva em busca da cura.
Essas pessoas geralmente sofrem da Síndrome
do Fracasso, identificando-se até com o fracasso de filhos e dos outros.
Tais pessoas têm como lema: "Eu existo, logo sofro". Vivem a dor de existir em estado puro, conforme atesta a psicanálise. Dor esta que morde a vida e sopra a ferida da existência.
"Tolerar a vida continua a ser, afinal de contas, o
primeiro dever de todos os seres vivos". (FREUD).
CAIXA PRETA Roberto Lanza
Bibliografia:
Diversos Pensadores e Psicanalistas famosos, especialmente o Psicanalista Valério Albisetti, em seu livro O VALOR DA SOLIDÃO, Editora Paullus,
edição de 1998.
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