quinta-feira, 7 de abril de 2022

 

PESCARIA – UM PARADOXO

 

 

É muito temerário pesquisar o desconhecido. Mais temerário, ainda, é colocar em dúvida o conhecido.

 

Tudo aquilo que me parece ser  desconhecido é porque faz parte da minha história. As ruas, os lugares por onde eu passo são apenas cenários da minha história. E os lugares por onde eu ainda não passei não existem, mas nada nesses lugares se movimenta, e em cada um desses lugares tudo está parado no tempo, em determinado momento futuro, à espera de que minha história chegue até eles. E os lugares aonde eu nunca irei nunca existirão. E as pessoas que nunca passaram por minha vida nunca nascerão. Enfim, tudo o que existe no mundo existe para a minha história.

 

Por outro lado, o ser humano busca incessantemente dominar a natureza para um melhor controle do futuro visando assegurar a sua eternidade. Mas trata-se de um projeto absurdo dominar a natureza se o próprio homem é também natureza. Afinal, quem dominaria o homem?

 

Muito estranho o que acontece numa pescaria. Ao mesmo tempo em que o pescador, na sua vida cotidiana, vivencia o temor do desconhecido, na pescaria ele é fascinantemente atraído pelo desconhecido. Por isso, pescar em açudes onde os peixes já são conhecidos e de fácil escolha e captura, não há qualquer desafio colocando o homem num desconhecimento crônico de si mesmo.

 

Interessante, também, é que um grupo de pescadores heterogêneos de diferentes origens e de diversas posições e classes sociais se identifica e comunga com os mesmos objetivos, que nada mais são do que cada um encontrando-se com si mesmo, fazendo do grupo uma comum-unidade.

 

Não há dúvida de que a água é a matriz da vida e o cidadão personagem é a matriz dos fantasmas, das discriminações e dos preconceitos.

 

ROBERTO LANZA

Novembro/2003

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