PESCARIA – UM PARADOXO
É muito temerário pesquisar o
desconhecido. Mais temerário, ainda, é colocar em dúvida o conhecido.
Tudo aquilo
que me parece ser desconhecido é porque
faz parte da minha história. As ruas, os lugares por onde eu passo são apenas
cenários da minha história. E os lugares por onde eu ainda não passei não
existem, mas nada nesses lugares se movimenta, e em cada um desses lugares tudo
está parado no tempo, em determinado momento futuro, à espera de que minha
história chegue até eles. E os lugares aonde eu nunca irei nunca existirão. E
as pessoas que nunca passaram por minha vida nunca nascerão. Enfim, tudo o que
existe no mundo existe para a minha história.
Por outro
lado, o ser humano busca incessantemente dominar a natureza para um melhor
controle do futuro visando assegurar a sua eternidade. Mas trata-se de um
projeto absurdo dominar a natureza se o próprio homem é também natureza.
Afinal, quem dominaria o homem?
Muito estranho
o que acontece numa pescaria. Ao mesmo tempo em que o pescador, na sua vida
cotidiana, vivencia o temor do desconhecido, na pescaria ele é fascinantemente
atraído pelo desconhecido. Por isso, pescar em açudes onde os peixes já são
conhecidos e de fácil escolha e captura, não há qualquer desafio colocando o homem
num desconhecimento crônico de si mesmo.
Interessante,
também, é que um grupo de pescadores heterogêneos de diferentes origens e de
diversas posições e classes sociais se identifica e comunga com os mesmos
objetivos, que nada mais são do que cada um encontrando-se com si mesmo,
fazendo do grupo uma comum-unidade.
Não há dúvida
de que a água é a matriz da vida e o cidadão personagem é a matriz dos
fantasmas, das discriminações e dos preconceitos.
ROBERTO LANZA
Novembro/2003
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