ENGODO DO IMAGINÁRIO
Quando o homem nasce é lançado fora de uma situação que era definida, tão definida quanto os instintos, para uma situação indefinida, incerta e exposta. Somente há certeza com relação ao passado – e, quanto ao futuro, apenas com relação à morte. O homem é dotado de razão: é a vida consciente de si mesma: tem consciência de si mesmo como entidade separada, a consciência do seu curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade.
Quando o homem nasce é lançado fora de uma situação que era definida, tão definida quanto os instintos, para uma situação indefinida, incerta e exposta. Somente há certeza com relação ao passado – e, quanto ao futuro, apenas com relação à morte. O homem é dotado de razão: é a vida consciente de si mesma: tem consciência de si mesmo como entidade separada, a consciência do seu curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade.
Essencial na existência do homem é o
fato de que ele emergiu do reino animal, da adaptação instintiva, transcendeu a
natureza – embora sem nunca a deixar; é parte dela – e, contudo, uma vez
desviado da natureza e expulso do paraíso– estado da unidade original com a
natureza não pode mais voltar a ela.
O homem só pode ir à frente
desenvolvendo sua razão, encontrando uma nova harmonia, que seja humana, em
lugar da harmonia pré-humana irrecuperavelmente perdida.
A natureza é completamente
indiferente à sobrevivência dos seres vivo. Ela é potencialmente providencial.
Cada ser vivo deve por si só promover a sua sobrevivência. È evidente que
existe um princípio inteligente que atua em favor da vida. A não-indiferença
representa o início do "importar-se", o reconhecimento da imagem do
outro, a importância de alguém que ocupa espaço físico, temporal, que faz
diferença!
Porém, é importante fazer uma distinção: enquanto as
coisas são, os valores Não são, mas valem! Quando dizemos de algo vale, não
dizemos nada do seu ser, mas dizemos que não é indiferente. A não-indiferença
constitui esta variedade ontológica que contrapõe o valor ao ser. Assim, a não
indiferença é a essência do valor.
No caso do ser
humano o “princípio da não-indiferença” significa que não permanecemos indiferentes diante
dos seres que constituem o nosso mundo familiar. Eis aí o embrião da fantasia da separatividade, pois
constantemente atribuímos a eles valores bipolarizados: belo e feio, bom
e mau, divino e profano, verdadeiro e falso, generoso e cínico e assim por
diante, construídos pelo registro do imaginário e do engodo.
“Não
há possibilidade de sobrevivência sem o todo, sem o uno. Conviver com a
dualidade em uma condição de vida ou morte. Se a mente se caracteriza por ser
dual, por separar, dividir, confrontar, julgar, destacar, essa mesma mente
jamais poderá apreender a realidade se esta for molar, global, una ou se pelo
menos for ”não dual”. Sendo a mente dual, e sendo a dialética um processo
puramente mental e que consiste em analisar ou procurar apreender a realidade
através da mente, a própria dialética está condenada, pela natureza do
instrumento mental que escolheu a oscilar constantemente entre um homogêneo e
um heterogêneo, impossíveis de absolutizar pelo fato de o próprio instrumento,
autor desta oposição, ser, ele mesmo, feito de energia”. (WEIL,
Pierre. As Fronteiras da Evolução e da Morte, Editora Vozes -1990. 4ª Edição,
pág. 29)
CAIXA
PRETA – Roberto Lanza
15/11/2017
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