Se o peixe é o último a perceber a existencia da água, o pescador, no momento e diferentemente, vivencia dois universos diferentes: um conhecido e o outro desconhecido experimentando uma espécie de aconchego e de integração existencial..
A DONA DA HISTÓRIA: “Tudo o que existe no
mundo existe para minha história acontecer. As ruas, os lugares por onde eu
passo, são apenas cenários da minha história. E os lugares por onde eu ainda não
passei não existem ainda, ou então existem, mas nada nesses lugares se
movimenta, e em cada um desses lugares tudo está parado no tempo, em
determinado momento do futuro, à espera de que minha história chegue até eles.
E os lugares aonde eu nunca irei nunca existirão. E as pessoas que nunca
passaram por minha vida nunca nascerão”. Publicado em Folha de São
Paulo de 22/03/98
Por outro
lado, o ser humano busca incessantemente dominar a natureza para um melhor
controle do futuro visando assegurar a sua ilusória imortalidade. Mas trata-se
de um projeto absurdo querer dominar a natureza se o próprio homem é também
natureza. Afinal, quem dominaria o homem? O real conhecido não abrange a
incerteza do futuro.
Muito extranho
o que acontece numa pescaria. Ao mesmo tempo em que o pescador, na sua vida
cotidiana, vivencia (inconsciente) o temor do desconhecido, na pescaria ele é
fascinantemente atraído pelo desconhecido. Por isso, pescar em açudes onde os
peixes já são conhecidos, de fácil escolha e captura, não há qualquer desafio
colocando o homem num desconhecimento crônico de si mesmo.
Interessante,
também, é que um grupo de pescadores heterogêneos de diferentes origens, profissões
e de diversas classes sociais se identifica e comunga com os mesmos propósitos,
que nada mais são do que cada um encontrando-se com si mesmo, fazendo do grupo
uma comum-unidade.
Para mim, não
há dúvida de que a água é a matriz da vida e o cidadão personagem é a matriz
dos fantasmas, das discriminações e dos preconceitos.
CAIXA PRETA Roberto Lanza
25/04/2020
25/04/2020
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