domingo, 15 de novembro de 2015

VIVÊNCIAS EXPERENCIAIS



Eu tenho motivos bastante sugestivos para que este texto chegue até você. A razão é muito simples: Eu vivi, mais ou menos durante 60 anos, imerso numa espécie de “aquário”, no qual o peixe é o ultimo a perceber a existência da água”.
Trata-se de uma metáfora de vida, própria da maioria dos seres humanos, os quais vivem na civilização a que pertencem num desconhecimento crônico do próprio Ser e, pior ainda, numa crescente despossessão de si mesmo.
É verdade sim, pelas minhas revelações vivenciais. Tal constatação é real e não muito diferente da dos meus semelhantes que fazem parte da minha história singular.
Quando, pela primeira vez há mais de 20 anos, procurei um Psicólogo para tratamento psicanalítico, a cada sessão eu elaborava uma série de textos escritos, explicações e mais explicações, esquemas e desenhos mirabolantes, aporias de definições e outros argumentos, a fim de orientar o psicanalista. Ele simplesmente me dizia: nada disso me interessa!. Eu quero apenas que você me traga o seu inconsciente. Na época, eu nem sequer imaginava o que significava o verdadeiro inconsciente, bem como o seu poder de influência.
Gradativamente fui compreendendo que tudo que eu tramava eram simplesmente boicotes do meu ego, como mecanismo de defesa para encobrir a minha verdade inconsciente. Tudo para mim era muito enigmático e doloroso.
Ninguém escapa de ter que enfrentar uma verdade inconsciente traumática, insuportável para o eu (Ego) consciente e ter que aprender a conviver com ela. Jung dizia: “o homem somente encontrará a paz quando consciente e inconsciente aprenderem a conviver em harmonia”.
O inconsciente não é algo que se oferece de forma benevolente, pelo contrario. é algo que teima em se ocultar.  Os desígnios conscientes não são capazes de elucidar os enigmas presentes no inconsciente, que se manifestam dissimuladamente nos sonhos, nos atos falhos e nas lacunas do discurso consciente.  
No século passado, Freud desenvolveu a ideia de três humilhações sucessivas sofridas pelo homem. A primeira privou-nos do lugar central do Universo, quando Copérnico demonstrou que a Terra gira ao redor do Sol. Em seguida Darwin demonstrou que somos descendentes dos primatas, em razão da evolução cega, desalojando-nos do lugar de honra entre os seres vivos. Finalmente, Freud descobriu a predominância do inconsciente em processos psíquicos, atestando que “o eu não é senhor em sua própria casa”
Isso acontece porque a verdade do sujeito acha-se aprisionada numa velha palavra, palavra essa que sugere o não ser a si mesmo (alienação).
Pelo fato da consciência do homem estar desperta, a ciência define o homem como o observador, ou seja: a capacidade de observar a si mesmo. Portanto, é um ser de potencialidades desprovido de “bola de cristal”.
Nos reinos inferiores ao homem, é dada à forma material a capacidade de evoluir; no reino humano, pelo contrário, é a consciência que cresce, se desenvolve e se expande, revelando-se aos poucos com crescente capacidade de reflexão, de observação e de percepção consciente.
Se for aceito o que foi dito, aos poucos será percebida que a verdadeira natureza do ser humano está oculta profundamente dentro dele. Ela é como uma semente que deve se abrir, germinar e crescer por meio das experiências da vida mundana.
Um dos maiores preceitos da psicanálise é a recusa em tamponar a brecha que existe entre o sujeito e a sua verdade. Daí, um poderoso fomento para o desenvolvimento do senso crítico.
O resgate do ser de qualquer paciente, necessariamente, terá que passar por um longo e sinuoso percurso para o processo de ressignificação do verdadeiro sentido da vida, descortinando novos horizontes e abrindo a vida para a criação.  Certamente, não será uma tarefa fácil; pelo contrário, frequentemente se mostrarão difíceis e dolorosas.
Podemos sugerir que o verdadeiro objetivo da vida humana é a evolução da consciência, que no homem se individualiza e se torna “consciência de si”. Por meio do autoconhecimento, o homem descobre sua verdadeira natureza e sua origem divina.
È oportuno descrever a seguinte citação:

“Declara-se que o homem é uma criatura que está em busca constante de si mesmo – uma criatura que, em todos os momentos de sua existência, deve examinar e escrutinar as condições da sua existência. Nesse escrutínio, nessa atitude crítica para com a vida humana, consiste o real valor da vida humana” (CASSIRER, Emst. Ensaio sobre o Homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994, p. 17)

CAIXA PRETA  Roberto Lanza
15/11/2015


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