Eu
tenho motivos bastante sugestivos para que este texto chegue até você. A razão
é muito simples: Eu vivi, mais ou menos durante 60 anos, imerso numa espécie de
“aquário”, no qual o “peixe é o ultimo a perceber a existência da
água”.
Trata-se
de uma metáfora de vida, própria da
maioria dos seres humanos, os quais vivem na civilização a que pertencem num
desconhecimento crônico do próprio Ser e, pior ainda, numa crescente
despossessão de si mesmo.
É
verdade sim, pelas minhas revelações vivenciais. Tal constatação é real e não
muito diferente da dos meus semelhantes que fazem parte da minha história
singular.
Quando,
pela primeira vez há mais de 20 anos, procurei um Psicólogo para tratamento
psicanalítico, a cada sessão eu elaborava uma série de textos escritos,
explicações e mais explicações, esquemas e desenhos mirabolantes, aporias de
definições e outros argumentos, a fim de orientar o psicanalista. Ele
simplesmente me dizia: nada disso
me interessa!. Eu quero
apenas que você me traga o seu inconsciente. Na época, eu nem sequer imaginava o
que significava o verdadeiro inconsciente, bem como o seu poder de influência.
Gradativamente
fui compreendendo que tudo que eu tramava eram simplesmente boicotes do meu
ego, como mecanismo de defesa para encobrir a minha verdade inconsciente. Tudo
para mim era muito enigmático e doloroso.
Ninguém
escapa de ter que enfrentar uma verdade inconsciente traumática, insuportável para o eu
(Ego) consciente e ter que aprender a conviver com ela. Jung dizia: “o homem somente encontrará a paz quando
consciente e inconsciente aprenderem a conviver em harmonia”.
O
inconsciente não é algo que se oferece de forma benevolente, pelo contrario. é
algo que teima em se ocultar. Os desígnios
conscientes não são capazes de elucidar os enigmas presentes no inconsciente,
que se manifestam dissimuladamente nos sonhos, nos atos falhos e nas lacunas do
discurso consciente.
No
século passado, Freud desenvolveu a ideia de três humilhações sucessivas
sofridas pelo homem. A primeira privou-nos do lugar central do Universo, quando
Copérnico demonstrou que a Terra gira ao redor do Sol. Em seguida Darwin
demonstrou que somos descendentes dos primatas, em razão da evolução cega,
desalojando-nos do lugar de honra entre os seres vivos. Finalmente, Freud
descobriu a predominância do inconsciente em processos psíquicos, atestando que
“o eu não é senhor em sua própria casa”
Isso
acontece porque a verdade do sujeito acha-se aprisionada numa velha palavra,
palavra essa que sugere o não ser a si mesmo (alienação).
Pelo fato da consciência do homem estar desperta, a
ciência define o homem como o observador,
ou seja: a capacidade de observar
a si mesmo. Portanto, é um ser de
potencialidades desprovido de “bola de cristal”.
Nos reinos inferiores ao homem, é dada à forma material
a capacidade de evoluir; no reino humano, pelo contrário, é a consciência que
cresce, se desenvolve e se expande, revelando-se aos poucos com crescente
capacidade de reflexão, de observação e de percepção consciente.
Se for aceito o que foi dito, aos poucos será
percebida que a verdadeira natureza do ser humano está oculta profundamente
dentro dele. Ela é como uma semente que deve se abrir, germinar e crescer por
meio das experiências da vida mundana.
Um dos maiores preceitos da psicanálise é a recusa em
tamponar a brecha que existe entre o sujeito e a sua verdade. Daí, um poderoso
fomento para o desenvolvimento do senso crítico.
O resgate do ser de qualquer paciente,
necessariamente, terá que passar por um longo e sinuoso percurso para o
processo de ressignificação do verdadeiro sentido da vida, descortinando novos
horizontes e abrindo a vida para a criação. Certamente, não será uma tarefa fácil; pelo
contrário, frequentemente se mostrarão difíceis e dolorosas.
Podemos sugerir que o verdadeiro objetivo da vida
humana é a evolução da consciência, que no homem se individualiza e se torna
“consciência de si”. Por meio do autoconhecimento, o homem descobre sua
verdadeira natureza e sua origem divina.
È oportuno descrever a seguinte citação:
“Declara-se
que o homem é uma criatura que está em busca constante de si mesmo – uma
criatura que, em todos os momentos de sua existência, deve examinar e
escrutinar as condições da sua existência. Nesse escrutínio, nessa atitude
crítica para com a vida humana, consiste o real valor da vida humana” (CASSIRER, Emst. Ensaio sobre o Homem: introdução a uma filosofia da
cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994, p. 17)
CAIXA PRETA Roberto Lanza
15/11/2015
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