sábado, 15 de agosto de 2020

OS BOICCOTES DO EGO

          Para nós chegarmos ao ser, “eu sou”, esse sou ganha autenticidade quando ele é energizado com um constante estar. O estar é a mola mestra, é a mola essencial, central para um legítimo ser. Nós temos que ter essa ótica bem definida, com identificação plena com os objetivos bem situados e bem selecionados, sempre reciclados e observados. Todas as vezes que nós queremos transformar o estar num ser, entramos em frustração.

É necessário aprender a sair da frente do espelho e ver o outro semelhante com os olhos da alma. Quem não “sabe dizer eu”,   nunca saberá dizer “você”. Infeliz daquele que não sabe que não sabe e nem sequer quer saber. Assim, ele nunca saberá se responsabilizar pela sua vida. Ora! Não se vive da vida, vive-se a vida. 

A visão do mundo com os olhos do ego é cheia de equívocos e um depósito de mal entendidos, uma vez que o ego  é uma criação do imaginário humano e não é senhor em sua própria casa, como disse Freud. Além disso, ele é um excelente especialista em boicotar a realidade com muita habilidade. 

O estar no mundo de cada um, é apenas uma forma de perceber a realidade de acordo com  sua realidade psíquica. Quantos engodos! Quantos equívocos!

          A fantasia é que é responsável pelo enquadramento da relação do sujeito com a realidade: sua janela para o mundo. É dela que o sujeito tira, ilusoriamente, a segurança do que fazer diante das situações que a vida se lhe apresenta. O sofrimento leva o sujeito a “pro – curar”  tratamento apropriado, visando tirá-lo da sua naturalidade inconsciente e da sua  artificialidade consciente, para a assertividade existencial, o que exige um percurso longo e sinuoso.

CAIXA PRETA Roberto Lanza
15/08/2020

segunda-feira, 27 de abril de 2020

para quem anda acomodado

PARA QUEM ANDA ACOMODADO



Criatividade

Segundo a filosofia de Jung: “O homem só se torna um ser integrado quando... consciente e inconsciente aprenderem a conviver em paz e completando-se um ao outro”.
Sendo assim , o inconsciente é criativo. É nesse sentido que tomamos o inconsciente como fator importante para a criatividade, que nada mais é do que um processo, individual ou grupal, de natureza mental e emocional, num dado contexto cultural, em que se procura ver de maneira nova uma dada situação.
Isto significa que, ao criar, rompemos com os velhos padrões e propomos um novo modelo de abordagem da realidade. Mas, para ser criativo, não basta inovar. É preciso que a idéia proposta seja relevante: isto é, ela tem de ser uma proposta válida a uma dada situação.
 No entanto, quanto mais familiar é o objeto, mais difícil é vê-lo dentro de novo contexto.
As barreiras à criatividade normalmente podem ser estruturais (de ordem psicológica, cultural ou ambiental) e processuais (ligadas à linguagem, rigidez funcional e hábitos).
As barreiras psicológicas inibem nossa capacidade conceitual e impedem a comunicação. São alimentadas pela nossa preferência pelo predizível e o ordenado e pela nossa inabilidade para com o desconhecido e o ambíguo; também pela nossa orientação para a realização e o sucesso rápido e pela nossa intolerância para a incubação e o desenvolvimento de idéias; pela valorização do que é (sensação) em detrimento do que poderia ser (intuição); e, finalmente, pelo nosso medo de fracassar.
Fomos criados para dar as respostas certas e, raramente, a criatividade é recompensada. Evitamos correr riscos que podem nos levar a enganos, ao prejuízo e ao ridículo. Como temos uma alta necessidade de sermos aceitos, daí todos os tipos de censura que recebemos desde a infância. Internalizada transforma-se em autocensura.
É extremamente difícil descrever fisionomias que somos perfeitamente capazes de reconhecer. As testemunhas revelam total incapacidade para fazer uma descrição verbal de um delinquente  visto anteriormente, mas indicam  com precisão a imagem do indivíduo ou mesmo a sua fotografia.
Daí a importância da intuição e da criatividade para poder dar à simbolização a sua capacidade de evocar e de enunciar a verdade, principalmente sobre a observação dos fenômenos recorrentes na natureza, para posteriormente descrevê-los.
Vejamos o que publicou o Jornal Folha de São Paulo de 26/03/1998:
           “O que faz a gente ser grande é não perder o futuro de vista. É chegar a uma porta, fincar a bandeira da conquista, nesse mesmo instante começar a buscar outros portos. É criar desafios, calcular riscos, avançando sempre. Porque a grande aventura é viver. E a vida, assim como as ondas, tem jeito diferente de se repetir, de prometer descobertas e abrigar todos os tipos de sonhos e embarcações. O que faz a gente ser grande é ser como o mar; incansável na sua procura pela onda perfeita, até descobrir que a perfeição está na própria busca”.

CAIXA PRETA


06/01/2015

sábado, 25 de abril de 2020

PESCARIA - UM PARADÓXO



Se o peixe é o último a perceber a existencia da água, o pescador, no momento e  diferentemente, vivencia dois universos diferentes: um conhecido e o outro desconhecido experimentando uma espécie de aconchego e de integração existencial..    

A DONA DA HISTÓRIA: “Tudo o que existe no mundo existe para minha história acontecer. As ruas, os lugares por onde eu passo, são apenas cenários da minha história. E os lugares por onde eu ainda não passei não existem ainda, ou então existem, mas nada nesses lugares se movimenta, e em cada um desses lugares tudo está parado no tempo, em determinado momento do futuro, à espera de que minha história chegue até eles. E os lugares aonde eu nunca irei nunca existirão. E as pessoas que nunca passaram por minha vida nunca nascerão”. Publicado em Folha de São Paulo de 22/03/98

Por outro lado, o ser humano busca incessantemente dominar a natureza para um melhor controle do futuro visando assegurar a sua ilusória imortalidade. Mas trata-se de um projeto absurdo querer dominar a natureza se o próprio homem é também natureza. Afinal, quem dominaria o homem? O real conhecido não abrange a incerteza do futuro.

Muito extranho o que acontece numa pescaria. Ao mesmo tempo em que o pescador, na sua vida cotidiana, vivencia (inconsciente) o temor do desconhecido, na pescaria ele é fascinantemente atraído pelo desconhecido. Por isso, pescar em açudes onde os peixes já são conhecidos, de fácil escolha e captura, não há qualquer desafio colocando o homem num desconhecimento crônico de si mesmo.

Interessante, também, é que um grupo de pescadores heterogêneos de diferentes origens, profissões e de diversas classes sociais se identifica e comunga com os mesmos propósitos, que nada mais são do que cada um encontrando-se com si mesmo, fazendo do grupo uma comum-unidade.

Para mim, não há dúvida de que a água é a matriz da vida e o cidadão personagem é a matriz dos fantasmas, das discriminações e dos preconceitos.

CAIXA PRETA Roberto Lanza
25/04/2020